Doenças Oculares
Catarata
A catarata é um processo de opacificação do cristalino, que é nossa lente natural que fica dentro dos olhos. Essa lente (cristalino) é normalmente clara e transparente. Com o aparecimento da catarata, ela se torna opaca e impede a passagem dos raios luminosos que formam a imagem no fundo do olho. A causa mais comum de catarata é o envelhecimento (quanto maior a idade, maior a probabilidade de aparecimento da catarata). Outras causas de catarata são: traumas (acidentes), doenças sistêmicas (como diabetes), uso de medicamentos (especialmente corticoides), catarata congênita (quando uma criança já nasce com catarata), entre outros.
Essa imagem mostra um olho sem catarata (à esquerda) e um olho com catarata (à direita)
Imagem demonstrando a visão normal de um paciente sem catarata (à esquerda) e a visão turva de um paciente com catarata (à direita)
O tratamento da catarata é cirúrgico. A cirurgia consiste em substituir a lente natural do olho por uma lente intraocular a ser implantada. Importante ressaltar que, até o presente momento, não existem outras formas de tratamento da catarata que não seja cirúrgico. Existem terapias com colírios em pesquisa, mas nada que já esteja aprovado para uso (tenha muito cuidado com terapias não aprovadas que são vendidas na internet).
O procedimento mais moderno usado para remoção da catarata é chamado de facoemulsificação. Neste procedimento, é realizada uma pequena incisão na parte da frente do olho (córnea), onde é introduzida uma caneta de ultrassom que fragmenta a catarata em inúmeros pedaços, permitindo sua aspiração por aquela pequena abertura no olho. Essa abertura é tão pequena que na maioria das vezes nem precisa de pontos (suturas) para ser fechada. Depois que a catarata é removida, o seu oftalmologista vai implantar uma lente intraocular artificial dentro do olho, no mesmo local onde foi retirada a lente natural danificada. A lente intraocular passa a ser parte permanente do seu olho. Essa lente tem aproximadamente 20-25 graus de poder e seu implante é imprescindível para que a pessoa volte a enxergar. Por isso, a decisão sobre a lente intraocular é muito importante. (ao final deste texto, você verá um link com uma explicação pormenorizada sobre os tipos de lentes intraoculares existentes).
Imagem demonstrando a cirurgia de catarata com implante da lente intraocular.
Quando operar?
Com o surgimento da doença, a tendência da catarata é evoluir e a visão tende a ficar cada dia mais turva.
Visão normal | Visão com catarata inicial | Visão com catarata avançada.
Antigamente, era necessário esperar a catarata ficar “madura”, ou seja, avançada, para a realização da cirurgia. Atualmente, com o desenvolvimento de modernas técnicas e aparelhos, a recomendação é que a cirurgia seja indicada nas fases iniciais da catarata, pois o procedimento torna-se muito mais rápido e seguro. Além disso, o tempo de recuperação é menor quando a cirurgia da catarata é realizada nos estágios iniciais.
Com a modernização da cirurgia de catarata e das lentes intraoculares, os resultados refrativos estão ficando cada vez melhores, ou seja, cada vez mais, os pacientes que se submetem a esse procedimento conseguem ficar mais independentes dos óculos (desde que sejam implantadas as lentes intraoculares mais modernas). Portanto, a partir de 2022, o Conselho Federal de Medicina liberou a realização dessa cirurgia mesmo em pacientes que ainda não tenham uma catarata significativa, desde que se obedeça alguns pré-requisitos: idade maior de 55 anos e grau de hipermetropia acima de 1,5 graus ou miopia elevada. Este procedimento é denominado troca refrativa do cristalino. (https://brascrs.com.br/src/uploads/2022/02/processo-consulta-cfm-no-06-2021-parecer-cfm-no-02-2022-cirurgia-de-troca-de-cristalino-com-finalidade-refrativa-tcr-facorefrativa.pdf)
Antes da cirurgia
Na primeira avaliação, quando é feito o diagnóstico da catarata, serão realizados alguns exames em seu olho para que seu oftalmologista tenha uma noção geral sobre a sua saúde ocular. Além disso, serão dadas informações preliminares sobre a cirurgia. A partir dessa primeira avaliação serão selecionados os exames complementares necessários e os tratamentos que precisam ser realizados antes da cirurgia. Qualquer doença da superfície dos olhos precisa ser tratada previamente, especialmente a doença do olho seco, pois uma superfície ocular saudável é fundamental para a realização do correto cálculo da lente intraocular. Também é necessário que você passe por um clínico e/ou cardiologista e faça um risco cirúrgico e anestesiológico (com um anestesista) para aumentar a segurança durante o procedimento. Na consulta seguinte, serão agendados todos os exames necessários para o cálculo da lente intraocular, serão discutidas de forma detalhada todas as tecnologias disponíveis das lentes intraoculares, além de discutir todos os riscos inerentes ao procedimento cirúrgico. É muito importante que você compareça a essa consulta com um acompanhante de sua total confiança para te ajudar a tomar todas as decisões acerca da cirurgia. (no final desta página, você encontrará nosso termo cirúrgico de consentimento para cirurgia de catarata)Recuperação da cirurgia
A cirurgia de catarata é um procedimento relativamente rápido, de 10 a 20 minutos, aproximadamente. Isso não quer dizer que ela seja um procedimento simples, pois envolve muito planejamento e tecnologia para que tudo dê certo. Como são necessários alguns procedimentos antes do ato cirúrgico em si (troca de roupas no centro cirúrgico, acesso venoso, anestesia, antissepsia, marcação para lentes, etc, eu oriento aos pacientes e acompanhantes reservar um turno do seu dia para realização da cirurgia. Você deve ficar de 1-2 horas conosco no centro cirúrgico e pode ser necessário ficar um pequeno período de tempo descansando na clínica ou hospital antes de ser liberado para casa. É imprescindível ter um acompanhante para te levar para casa. Depois da cirurgia, é fundamental que se use os colírios rigorosamente como prescrito pelo seu oftalmologista, para permitir uma recuperação satisfatória.
Durante as primeiras semanas, devem ser evitadas atividades como exercício físico, levantar pesos, abaixar a cabeça. Também é importante que se evite o contato do olho com sujeira, poeira, plantas ou animais, que podem ser fonte de infecção. Atividades corriqueiras como leitura, assistir TV, celular são liberadas imediamente após a cirurgia. (uma lista completa das orientações pré e pós operatórias você encontra disponível para download abaixo). Aproximadamente um mês após a sua cirurgia, você fará uma consulta de revisão onde será avaliado o resultado final da cirurgia e se tudo tiver acontecido conforme esperado, você receberá alta para continuar sua vida normalmente (ou planejar a cirurgia do segundo olho, caso você só tenha operado o primeiro olho).
Agora que você já entendeu sobre a catarata e seu tratamento, está na hora de visitar nosso link para te ajudar a entender um pouco mais sobre as tecnologias disponíveis para as lentes intraoculares.
Antes de começar a ler esse post sobre lentes intra oculares, é interessante que você saiba que durante a cirurgia de catarata, o oftalmologista retira a lente natural do olho chamada cristalino (que está com catarata e com perda da sua transparência natural) por uma lente artificial. Se quiser saber mais detalhes sobre a cirurgia de catarata, sugiro clicar no link abaixo que explicamos isso de forma melhor.
A escolha da lente intraocular é uma oportunidade muito interessante para poder diminuir a dependência dos óculos. É importante ressaltar que essa escolha deverá ser feita apenas uma vez na vida, haja visto que apenas em raríssimas ocasiões iremos trocar a lente intraocular. Ainda não existe uma lente intraocular ideal, aquela que tenha a mesma função da nossa lente natural jovem e que sirva para todos os olhos, por isso existem vários modelos de lentes que tentam oferecer a melhor qualidade de vida para o paciente.
A indústria oftalmológica continua em busca da lente perfeita e esse post vai ser atualizado, à medida que novas tecnologias forem sendo lançadas. Este post tem como objetivo te ajudar a entender melhor a tecnologia das lentes, para facilitar sua escolha, junto ao seu oftalmologista. São muitas informações e, às vezes, de difícil compreensão para quem não está familiarizado. No entanto, elas são fundamentais para fazer uma escolha que é para o resto da vida. Portanto, se você vai ser operado de catarata em breve (especialmente se for operar comigo), sugiro ler esse post com calma, em um momento em que tenha bastante tempo para reler e tentar entender todos os pontos que vão ser descritos. Sugiro ainda ler com um ou com vários familiares para que eles possam te ajudar nessa decisão e venham junto na consulta de cálculo da lente para que possamos fazer, juntos, a melhor escolha.
A escolha da lente leva em consideração as características dos olhos (por isso são realizados diversos exames oftalmológicos), os hábitos do paciente (por isso gostamos que o paciente preencha um questionário para entendermos melhor seu dia a dia e suas expectativas) bem como as características e limitações de cada modelo de lente intraocular.
Antes de falar especificamente sobre os modelos de lentes intraoculares, temos que compreender um pouco mais sobre a visão e os 3 focos que utilizamos no dia a dia. Para termos uma visão funcional, temos que ter:
- foco para longe: consideramos longe a visão além de 3-4 metros (ver TV, dirigir, etc);
- foco intermediário: 70 cm a 2-3 metros (computador, ver as pessoas em uma sala, etc);
- foco para perto: 30-40 cm (ler um livro, ver o celular, etc).
Em um olho jovem perfeito, é a lente natural do olho que alterna a foco e permite que enxerguemos nas diferentes distâncias.
Imagem esquemática dos três focos principais que utilizamos em nosso dia-a-dia.
Simulação da visão de um olho sem grau jovem que consegue focar todos objetos ao mesmo tempo: longe, intermediário e perto.
Após os 40 anos, nossa lente vai perdendo essa capacidade de mudar a focalização, por isso a pessoa fica com a “vista cansada”(presbiopia) e precisa de óculos para ver de perto.
Simulação da visão de um paciente sem grau para longe, mas com vista cansada e dificuldade na visão intermediária e de perto.
Como a lente artificial vai substituir a lente natural, ela dever ter características que, de alguma forma, exerçam a função que nossa lente natural tem.
Há muitos anos, quando não existia lente intraocular, a cirurgia de catarata consistia em retirar a lente natural, sem implante. Para corrigir sua falta, o paciente usava óculos de cerca de 12 graus para ter uma função parecida com a da lente natural.
Até pouco tempo atrás, a oftalmologia não dispunha de mecanismos precisos para calcular o grau da lente intraocular, por isso, era normal o paciente continuar usando óculos em 100% das suas atividades após a cirurgia de catarata, tanto para longe quanto para perto. Com o aumento da precisão dos equipamentos (embora eles ainda não sejam perfeitos), nós sempre tentaremos oferecer o máximo de visão possível, com o mínimo de dependência dos óculos. É importante ressaltar que, na cirurgia de catarata, com a tecnologia atual das lentes intraoculares, ainda não conseguimos oferecer visão perfeita de um jovem de 20 anos de idade, mas buscamos um equilíbrio entre a melhor visão possível com o máximo de independência possível.
Outro ponto importante que precisamos entender antes de falar especificamente sobre cada tipo de lente: o astigmatismo. O astigmatismo é um tipo de grau que faz com que enxerguemos desfocado. Nem todas as pessoas possuem astigmatismo, mas uma boa parte delas tem esse tipo de grau.
Simulação de uma visão com astigmatismo moderado.
Dependendo da forma do seu olho (isso vai ser avaliado pelos exames pré-operatórios), ele pode precisar de lentes que corrijam o astigmatismo para que você possa ter o melhor foco possível. A lente que corrige o astigmatismo é chamada de LENTE TÓRICA. Quase todos os modelos de lentes intraoculares possuem o modelo não tórico (quando calculamos que o astigmatismo residual vai ser de 0,50 ou inferior) e modelo tórico (quando calculamos que o astigmatismo residual será de 0,75 ou superior). Essa informação é importante, pois as lentes tóricas são mais caras, seu implante é mais complexo e isso pode influenciar nos valores da sua cirurgia.
A primeira imagem simula a visão de um paciente com astigmatismo não corrigido e a segunda imagem corrigido. Essa correção pode ser feita tanto com os óculos como com as lentes intraoculares. Portanto, caso o paciente opte por não corrigir o astigmatismo na cirurgia de catarata, sabemos que vai precisar continuar usando óculos no pós-operatório.
Agora que entendemos um pouco como nossa visão funciona, vamos falar especificamente dos tipos de lentes intraoculares: as monofocais, as difrativas (bifocais, trifocais, EDOF) e as lentes de foco estendido não difrativas.
1. Lentes Monofocais:
São as lentes que possuem um só ponto de focalização. Tradicionalmente, com as lentes monofocais, buscamos dar o melhor foco para a visão de longe para o paciente.
A grande vantagem desse tipo de lente é que 100% da energia luminosa que entra dentro do olho é direcionada para um só ponto focal. Isso permite entregar o máximo de visão possível para aquele foco (geralmente o foco de longe). Essa vantagem também acaba sendo uma desvantagem, haja visto que ela não permite ao olho focar em outras distâncias, portanto, precisaremos de óculos para visão intermediária e para visão de perto.
Visão desfocada do paciente com catarata (acima) x visão do paciente operado com lentes monofocais para longe (abaixo) – repare que a visão para longe voltou ao normal, mas a visão intermediária (na mesa) e de perto (livro) estão desfocadas e serão necessários óculos para corrigir esses focos após a cirurgia.
1. A – Monofocais esféricas
As lentes monofocais esféricas possuem foco único, como todas as lentes monofocais. A diferença é que elas utilizam uma tecnologia um pouco mais simples denominada esférica, que não permite que todos os raios de luz focalizem juntos ao mesmo tempo na retina. Por não se focalizarem juntos, essas lentes esféricas proporcionam menor qualidade de visão e menos contraste em relação às lentes asféricas. Importante ressaltar que essa perda de qualidade óptica não pode ser corrigida com óculos. São lentes mais baratas e são aquelas geralmente oferecidas pelo plano de saúde e pelo SUS. Outro ponto a ser considerado é que não são fabricadas lentes esféricas tóricas que corrijam astigmatismo, portanto, esse tipo de grau não será corrigido pela lente (ao contrário da perda de contraste, o astigmatismo residual pode ser corrigido, posteriormente, com uso de óculos).
1. B- Monofocais asféricas
As lentes monofocais asféricas também possuem foco único, como todas as lentes monofocais. A diferença é que elas usam uma tecnologia mais avançada para ficarem mais parecidas com a lente intraocular natural (nosso cristalino também é uma lente asférica) e, com isso, proporcionam melhor focalização, com mais qualidade de visão e mais contraste, além de melhorar nossa visão em ambientes com menor iluminação. Alguns autores gostam de comparar a visão das lentes asfericas às TVs digitais, enquanto as lentes esféricas seriam semelhantes às TVs analógicas. As lentes esféricas foram as primeiras lentes especiais (também conhecidas como “lentes premium”) para cirurgia de catarata e eram todas importadas, por isso até hoje algumas pessoas as conhecem como “lentes importadas”.
Algumas figuras tentam mostrar a diferença entre lentes esféricas e lentes esféricas:
Aqui demonstramos visualização com lentes oftalmológicas esféricas (acima) e asféricas (abaixo). Observar que as aberrações nas lentes asféricas são bem menores.
Imagem mostrando raios desfocados nas lentes esféricas e mais focados nas asféricas
À esquerda, imagem simulando a visão com uma lente intraocular esférica enquanto à direita, com uma lente esférica. Alguns autores gostam de comparar a visão das lentes esféricas às TVs analógicas, enquanto a visão das lentes esféricas seria das TVs digitais.
Detalhes sobre as lentes monofocais:
Em alguns casos selecionados, podemos fazer uma adaptação com essas lentes monofocais chamada báscula: consiste em programar as lentes em um olho com focalização para longe e no outro olho com focalização para perto, objetivando dar mais independência dos óculos. Alguns pacientes se beneficiam dessa estratégia, mas é importante ressaltar que o paciente precisa de um período de adaptação para que o cérebro se acostume com essa diferença de visão entre os olhos. Além disso, para situações de uso mais prolongado da visão de longe (dirigir, ver filmes, etc) ou de perto (leituras prolongadas), podem ser necessários óculos para que o paciente se sinta mais confortável e volte a utilizar os dois olhos ao mesmo tempo.
Da sessão 2 em diante, todas as lentes possuem alguma tecnologia para tentar minimizar o uso dos óculos nas visões intermediária e de perto. Todas as lentes da sessão 2 e 3 são asféricas e todas as lentes asféricas (incluindo a monofocal descrita acima) são conhecidas na oftalmologia como “lentes premium”, ou seja, lentes que oferecem alguma tecnologia acima das tecnologias tradicionais.
2. Lentes intraoculares Difrativas
Essas lentes têm por característica principal pequenas ranhuras em sua superfície (parecidas com um disco de vinil antigo) que são capazes de dividir a energia luminosa que chega no olho.
A maior parte da energia luminosa continua sendo direcionada para o foco de longe, no entanto, a depender do modelo de lente (descritos a seguir), a lente divide a energia luminosa também para o foco intermediário e/ou de perto. É fato que ainda não temos uma lente intraocular perfeita, então essa divisão da luz tem algumas características proprias que precisam ser explicadas:
por dividirem a luz, elas precisam de olhos com características muito próximas do que consideramos perfeitos para funcionar adequadamente. Portanto, é grande o número de pacientes que desejam colocar esse tipo de lente, que, no entanto, é contraindicada por alterações de seu olho (cicatrizes, doenças da retina, olho seco, aberrações corneanas, entre outros). Então, não se assuste se o seu oftalmologista disser que seu olho não é um bom candidato a esse tipo de lente.
diminuição do contraste em todos os focos já que não chega 100% da energia luminosa em um só foco. Para entender melhor a diminuição do contraste, gosto de comparar com uma impressora: quando você imprime no modo normal ou ótimo, você tem 100% de contraste; quando imprime no modo econômico, você ainda vê, mas com menor contraste.
surgimento de fenômenos ópticos conhecidos como halos, glare e starburst, onde há um espalhamento das luzes fazendo com que o paciente tenha um pouco de dificuldade com objetos iluminados, especialmente à noite, tais como faróis de carros, lâmpadas, etc.
Na imagem vemos um ponto de luz visto por um olho normal à esquerda e os possíveis fenômenos ópticos causados pelas lentes difrativas.
Muito importante ressaltar que esses fenômenos não são complicações da cirurgia. São fenômenos ópticos esperados justamente pelo modo como as lentes são fabricadas (necessários para ter a visão média e de perto). A boa notícia é que a intensidade desses fenômenos é variável entre as pessoas (algumas pessoas nem chegam a se incomodar com eles). Outra boa notícia é que com o passar dos meses, vai havendo neuroadaptação, ou seja, o cérebro vai se adaptando àquelas imagens e elas tendem a parar de ser um incômodo. Além disso, regularmente as empresas fabricantes vão atualizando e aperfeiçoando seus modelos de lentes, sendo que as mais modernas geram menos sintomas que as mais antigas (sempre vamos oferecer para você o que tem de mais moderno no mercado de oftalmologia). Em último caso, se o paciente não se adaptar aos fenômenos ópticos após algum tempo, pode ser avaliada a possibilidade de troca da lente, embora essa cirurgia não seja desejável já que incorre em riscos até maiores do que a cirurgia de catarata em si (além de gerar novo gasto ao paciente por se tratar de nova cirurgia com implante de nova lente).
2.1 Lentes difrativas bifocais Foram as primeiras lentes com mais de um foco desenvolvidas. Elas possuem geralmente um foco principal para longe e o segundo foco pode variar entre intermediário ou de perto, de acordo com o desejo do paciente e intenção do cirurgião. Essas lentes têm sido menos usadas atualmente após o lançamento das lentes trifocais descritas a seguir.
Imagem simulando lentes difrativas à noite, com fenômenos ópticos de halos e glare. Essa imagem simula o resultado para lentes bifocais.
2.2 Lentes difrativas trifocais São as lentes difrativas mais modernas da atualidade. Elas possuem 3 focos de visão: longe, médio e intermediário. São as lentes da atualidade que mais fornecem independência dos óculos nos 3 focos principais. Apesar de não serem isentas dos fenômenos ópticos descritos anteriormente para lentes difrativas, as lentes trifocais mais modernas atuais prometem menos halos e glare em relação às difrativas mais antigas.
Três pontos focais nas lentes difrativas trifocais.
Foto ilustrativa mostrando simulação de lente trifocal moderna, com menores fenômenos ópticos em relação às lentes bifocais.
Imagem simulando visão durante o dia de uma lente trifocal moderna mostrando uma visão bastante próxima de uma visão natural
2.3 Lentes difrativas EDOF Esse nome vem do inglês extended depht of focus, que quer dizer lentes de foco estendido. Essas lentes vieram com o objetivo de diminuir ainda mais os fenômenos ópticos das lentes difrativas e serem mais tolerantes a erros de grau residual. No entanto, para ganhar esse desempenho na visão de longe, elas perdem desempenho na visão de perto, conseguindo uma boa visão até o foco intermediário. Normalmente os pacientes com esse tipo de lente precisam de óculos para leitura de objetos pequenos, como livros ou mesmo celular.
Imagem mostrando o foco alongado das lentes de foco estendido ao invés dos focos pontuais das lentes bi e trifocais
Nessa simulação, conseguimos observar na lente EDOF menores fenômenos ópticos nos pontos luminosos em relação às outras lentes difrativas.
Nessa simulação, vemos que a visão de perto fica um pouco mais embaçada em relação à visão com as lentes trifocais
2.4 Lentes que misturam tecnologias EDOF/Trifocais
As lentes que misturam tecnologias dentro da mesma plataforma chegaram prometendo serem a melhor solução para os pacientes. No entanto, até o presente momento, ainda não conseguiram superar os resultados obtidos com as lentes trifocais.
3. Lentes com tecnologia de foco estendido, NÃO DIFRATIVAS: Esses modelos são os últimos lançamentos no mercado oftalmológico e vem se tornando cada vez mais populares. Elas são uma evolução das lentes EDOF difrativas. A intenção da indústria nessas lentes é trazer soluções que tenham uma qualidade de visão para longe igual, ou muito próxima, das lentes monofocais esféricas, mas que também tenham alguma extensão de foco para intermediário e/ou de perto, sem os indesejáveis efeitos negativos já descritos nas lentes difrativas (perda de contraste ou fenômenos de halos e glare). Dessa forma, objetivam proporcionar uma visão mais “alongada”, ou seja, mais próxima da visão humana natural.
A tecnologia utilizada muda conforme o fabricante (não é nosso objetivo nesse texto descrever cada uma delas), mas basicamente funcionam tentando modular aberrações ópticas, ou seja, tentam utilizar algumas partes da energia luminosa que não seriam utilizadas normalmente para gerar esse alongamento do foco, sem perder a qualidade para visão de longe.
Imagem mostrando alongamento de foco gerado por uma das lentes com essa tecnologia disponível no mercado.
Como vantagem em relação às lentes difrativas, objetivam reduzir ou eliminar os fenômenos ópticos indesejáveis dessas, gerando uma visão mais próxima do natural. Portanto, muitos pacientes que tenham contraindicação para lentes difrativas, podem se beneficiar dessa tecnologia e aumentar sua independência dos óculos. Por serem não difrativas, possuem maior tolerância a possíveis graus residuais.
Como desvantagem, elas ainda não conseguem atingir o mesmo desempenho das lentes trifocais em relação à qualidade de visão de perto, além de menor previsibilidade em relação à essa visão de perto (em alguns casos, mesmo com um cálculo perfeito o paciente apresenta um desempenho na visão de perto, pior que o esperado). Assim, em alguns casos, os pacientes precisam de óculos para leitura de perto. Para minimizar esse problema com essas lentes, muitas vezes planejamos deixar propositalmente um pequeno grau para longe no segundo olho. Esse grau residual planejado objetiva otimizar a visão de perto. Essa estratégia é conhecida como mini báscula, ou seja, uma báscula de menor proporção do que era feita com lentes monofocais, que foi descrito anteriormente. Com isso, geramos menor desconforto para longe, com melhor visão do conjunto dos dois olhos (os dois olhos estão focando longe, intermediário e perto ao mesmo tempo, embora um olho com predominância para visão de longe e outro intermediário/perto).
Outra questão bastante importante desse grupo de lentes é que existem tecnologias bastante diferentes umas das outras e com resultados diversos. Apesar de todas apresentarem ótimo desempenho para longe, o desempenho para as visões de perto/intermediário são diferentes entre as lentes. Assim sendo, lentes que entregam uma visão intermediária e de perto superiores nos trabalhos científicos custam mais caro do que aquelas que apresentaram resultados menos expressivos.
Comparativo de uma lente monofocal tradicional com uma lente vivity mostrando melhora da visão intermediária do painel do carro.
Essas são as principais tecnologias de lentes disponíveis atualmente. Sugiro uma releitura no dia anterior à consulta de cálculo e escolha da sua lente com seu oftalmologista. Leve todos seus exames e boa sorte na sua escolha e na sua cirurgia.
Perspectivas futuras são de lentes adaptativas, ou seja, lentes que consigam mudar de forma dentro do nosso olho, assim como acontece com nossa lente natural jovem. Outra tecnologia que vem sendo desenvolvida é um laser capaz de mudar o grau ou a forma da lente intraocular, mesmo depois que ela foi implantada, permitindo otimizar os resultados (essas tecnologias ainda estão em fase de pesquisa).
Algumas considerações importantes:
Para aumentar a chance de sucesso com o cálculo das lentes intraoculares são necessários diversos exames oftalmológicos, sendo que alguns deles não estão contemplados no rol de procedimentos cobertos pelos planos de saúde e poderão ser cobrados à parte pelo oftalmologista.
Importante salientar que um erro de grau da lente não é considerado um erro médico, mas uma limitação técnica prevista em literatura médica. Assim, mesmo com as melhores tecnologias atualmente disponíveis (que estão ao seu alcance em nossa clínica), esses erros podem ocorrer. É considerado um sucesso quando o grau residual do paciente fica em 0,50 a 0,75 graus, pois isso geralmente não interfere as atividades cotidianas do paciente. Se ocorre um desvio do grau esperado no primeiro olho operado, sempre tentamos compensar esse desvio no segundo olho, promovendo um balanço binocular adequado para perfeito uso da visão. Entretanto, caso ocorra um grau residual indesejado e não consigamos resolver com o balanço binocular, podem ser necessários uso de óculos ou tratamentos adicionais (novas cirurgias, tratamentos à laser ou mesmo troca da lente) e isso poderá incorrer em novos custos para o paciente.
É importante chamar atenção para o olho seco, pois o paciente com olho seco pode tornar a captura dos exames menos precisas. Portanto, caso seu oftalmologista tenha prescrito tratamento para blefarite/olho seco, é fundamental que você o faça corretamente, dando ainda mais atenção nos dias que antecedem seu calculo de lente. É importante ressaltar que, se você tiver um olho seco, vai precisar continuar o tratamento após a cirurgia para que a lente consiga atingir o seu máximo desempenho.
Infelizmente, nem sempre os pacientes podem colocar o tipo de lente que deseja. Algumas características do olho podem ser contraindicações para alguns tipos de lentes, especialmente as lentes difrativas.
O paciente deve estar ciente de que as lentes especiais (ou “premium”) de catarata não têm cobertura dos planos de saúde, conforme texto nos links abaixo da ANS e CBO. No entanto, é muito importante para o paciente que avalie bastante não apenas o custo do implante, mas o custo x benefício do mesmo. Muitas vezes, o custo inicial (que sabemos que não é baixo) é diluído ao longo dos anos quando conseguimos independência total ou parcial dos óculos (que também tem custo elevado e, ao contrário das lentes intraoculares, precisam ser trocados periodicamente).
Conforme texto da Agência Nacional de Saúde (ANS), “os tratamentos estritos do astigmatismo, miopia, hipermetropia, presbiopia e ceratocone por meio de implante de lentes intraoculares não constam no Rol vigente, portanto, não possuem cobertura obrigatória”. Segundo o Conselho Brasileiro de Oftalmologia, “esta cobertura não se estende para a utilização de LIOs de características especiais que possam corrigir aberrações de alta ordem, astigmatismo e presbiopia. Neste caso, a diferença dos valores entre as LIOs esféricas abonadas pelas operadoras de saúde e aquelas de características especiais, caberá ao paciente, que deverá ter ciência disso e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.”
https://www.jotazerodigital.com.br/a-orientacao-do-cbo-sobre-proteses-intraoculares.php
https://www.gov.br/ans/pt-br/arquivos/acesso-a-informacao/transparencia-institucional/pareceres-tecnicos-da-ans/2020/parecer_tecnico_no_18_2021_lente_intraocular_-_catarata.pdf
Conjutivites infecciosas
A conjuntivite é uma inflamação da membrana fina e transparente que reveste a parte interna das pálpebras e a superfície branca do olho, conhecida como conjuntiva. Essa condição pode ser causada por diversos fatores, sendo as conjuntivites infecciosas uma das principais categorias. Entre elas, destacam-se a conjuntivite viral e bacteriana cada uma com características distintas.
Anatomia do olho com destaque para a conjuntiva
Esse tipo de conjuntivite tem como causa um micro organismo que está se proliferando, diferentemente da conjuntivite alérgica, que descreveremos em outro artigo. Click nesse link se quiser saber mais sobre conjuntivites alérgicas.
Conjuntiva normal à esquerda e inflamada à direita
Vamos descrever as diferenças entre tipos de agentes infecciosos: bactérias e vírus. Durante a consulta, tentamos diferenciar qual deles está causando a infecção, mas, nesse ponto, gosto de chamar a atenção que nem sempre é possível diferenciar com 100% de precisão, especialmente quando o paciente vai ao consultório nos primeiros dias de sintomas. Portanto, se a evolução da conjuntivite não esteja sendo conforme esperado, não hesite em entrar em contato e agendar uma reavaliação.
1. Conjuntivite Bacteriana:
- Causa: Bactérias , tais como Streptococcus e Staphylococcus.
- Sintomas: Olhos vermelhos, secreção purulenta, coceira e inchaço das pálpebras. A secreção mais abundante é um dos principais diferenciais desse tipo de conjuntivite.
- Transmissão: Contato direto com secreções oculares ou objetos contaminados.
- Tratamento: Antibióticos tópicos em colírios são frequentemente prescritos para combater a infecção bacteriana e muitas vezes utilizamos antibióticos associados a anti inflamatórios. Lavagem cuidadosa dos olhos é crucial.
Conjuntivite bacteriana com sua secreção mais purulenta
2. Conjuntivite Viral:
- Causa: Geralmente provocada por vírus sendo o adenovírus o mais comum. Os vírus são responsáveis por cerca de 90% das conjuntivites infecciosas.
- Sintomas: Olhos vermelhos, lacrimejamento, sensação de corpo estranho e sensibilidade à luz. Geralmente o olho amanhece grudado com secreção, mas a secreção costuma ser mais mucoide enquanto a conjuntivite bacteriana é mais purulenta. Pode haver inchaço nas pálpebras.
- Transmissão: Contato direto com secreções oculares ou superfícies contaminadas. Essa conjuntivite é aquela que se espalha rápido, em surtos nas escolas e locais de trabalho e, por isso, é importante afastar as pessoas contaminadas do convívio com seus colegas, para evitar disseminação.
Costumo brincar com meus pacientes que o afastamento não é uma mini férias e nada adianta você se afastar do trabalho ou escola se continuar convivendo com as outras pessoas em casa, no comércio ou clubes. O isolamento é necessário e a pandemia pelo coronavírus ensinou isso bastante para todos. Além disso, oriento que, se os sintomas forem leves, o paciente pode realizar trabalhos em home office.
- Tratamento: Repouso, compressas frias e colírios lubrificantes. Antibióticos não são eficazes contra vírus, portanto, o tratamento visa aliviar os sintomas.
Nessa parte é comum o paciente se frustrar durante a consulta, pois todos queremos aquele tratamento mágico que vai fazer com que os sintomas desapareçam imediatamente. É importante enfatizar que não existe um tratamento específico para a conjuntivite viral. É preciso dar tempo para que seu corpo possa produzir anticorpos para a melhora da infecção. A quantidade de dias de infecção pode variar muito, mas em geral os sintomas tendem a piorar nos primeiros 3 a 5 dias, tendem a sumir em 7 a 10 dias, embora em alguns raros casos os sintomas possam durar mais que um mês.
A conjuntivite viral se assemelha muito a uma gripe ou resfriado. Inclusive é comum que o paciente tenha as duas coisas ao mesmo tempo causados pelo mesmo vírus. Claro que é um pouco desanimador para o paciente ir a um médico esperando um tratamento e ser informado de que é preciso apenas aguardar seu organismo responder, mas é preciso entender que isso é bastante comum nas doenças auto limitadas. Até que apareça uma droga capaz de diminuir o tempo de infecção de uma forma segura, aguardar seu organismo responder é o melhor remédio. Finalmente, para chegarmos à conclusão de que é uma virose, avaliamos vários parâmetros dos seus olhos para excluir outras doenças oculares mais graves, por isso a consulta é tão importante.
Sobre a auto medicação nas conjuntivites, muitos pacientes vem ao consultório usando colírios à base de nafazolina (denominados de colírios comuns) e esses colírios não devem ser usados, pois causam contração dos vasos sanguíneos, dificultando a chegada dos anticorpos e atrapalhando seu sistema de defesa (além de poderem causar efeitos colaterais). Outro colírio muito comum do paciente chegar usando é o colírio de associação de antibiótico + anti inflamatório. Embora sua venda só seja permitida com retenção de receita médica, sabemos o quanto é fácil para o paciente adquirir esse colírio. Como visto antes, esse tipo de colírio é útil na conjuntivite bacteriana, mas pouco útil ou até prejudicial nas conjuntivites virais. Explico: o antibiótico não vai ter nenhuma ação sobre os vírus (você estará jogando seu dinheiro fora e aumentando o risco de efeitos colaterais que ocorrem em qualquer medicamento; sobre os anti inflamatórios, apesar deles ajudarem a diminuir um pouco os sintomas, os estudos já comprovaram que eles aumentam o tempo da doença. Assim, se sua conjuntivite viral fosse durar 5 dias, talvez ela se estenda até 7 ou 10 dias usando esses colírios. Outro problema dessa classe de medicamentos é se você estiver com uma conjuntivite herpética (o herpes também é um vírus e pode dar sintomas muito parecidos com a conjuntivite viral por adenovírus), o anti inflamatório vai piorar sua doença. Por isso a auto medicação é tão prejudicial e quando algum paciente nos liga ou manda whatsapp querendo que passemos algum colírio sem ver o paciente, temos que ser dizer que não podemos, para não correr o risco de prejudicar o paciente.
Conjuntivite viral com secreção mais mucóide
Prevenção
A prevenção da transmissão da conjuntivite envolve práticas de higiene pessoal e medidas para evitar a propagação do vírus ou bactéria causadora da infecção. Aqui estão algumas dicas importantes:
Lavagem das Mãos:
- Lave as mãos frequentemente com água e sabão, especialmente após tocar nos olhos ou áreas próximas.
- Use desinfetante para as mãos à base de álcool quando não for possível lavar as mãos.
Evitar Contato com os Olhos:
- Evite coçar ou tocar nos olhos com as mãos não lavadas.
- Evite compartilhar objetos de uso pessoal, como toalhas, lenços e travesseiros.
Higiene Facial Adequada:
- Utilize lenços de papel descartáveis ao assoar o nariz e descarte-os imediatamente.
- Evite tocar o rosto com as mãos sujas.
Limpeza de Superfícies:
- Limpe regularmente superfícies tocadas com frequência, como maçanetas, interruptores de luz e telefones, com desinfetante.
Evitar Contato Próximo com Pessoas Infectadas:
- Evite o contato próximo com indivíduos que tenham conjuntivite ou apresentem sintomas oculares.
- Se você for a pessoa infectada ou suspeita, evite apertos de mãos, abraços ou beijos para evitar a disseminação.
Proteção Pessoal:
- Ao participar de atividades esportivas em equipe, evite compartilhar objetos pessoais, como óculos de natação ou equipamentos de proteção.
Cuidados no Ambiente de Trabalho e Escola:
- Se estiver com conjuntivite, evite frequentar o trabalho ou a escola até que os sintomas melhorem para reduzir o risco de propagação.
A conjuntivite é uma inflamação da membrana fina e transparente que reveste a parte interna das pálpebras e a superfície branca do olho, conhecida como conjuntiva.
Anatomia do olho com destaque para a conjuntiva
Diferentemente da conjuntivite infecciosa (click nesse link se quiser saber mais sobre conjuntivites infecciosas), a conjuntivite alérgica não tem algum microorganismo causando uma infecção e gerando inflamação (por isso, esse tipo de conjuntivite não é transmissível). Na verdade, a inflamação é causada por uma reação exagerada do seu corpo a alguma coisa que está presente no ambiente a qual chamamos de alérgeno. Os principais alérgenos presentes no ambiente são: pólen, pelos de animais, ácaros, mofo e produtos químicos.
Paciente com quadro de conjuntivite alérgica
Sintomas
Os sintomas da conjuntivite alérgica podem variar de pessoa para pessoa, mas geralmente incluem:
- Vermelhidão nos olhos
- Coceira intensa
- Inchaço das pálpebras
- Sensação de queimação ou irritação
- Lacrimejamento excessivo
- Sensibilidade à luz
O principal sintoma da conjuntivite alérgica é a coceira nos olhos
O grande perigo de coçar os olhos, especialmente nas crianças, é a possibilidade de causar deformação na córnea e causar uma doença chamada ceratocone
Causas
A alergia ocorre quando o sistema imunológico reage exageradamente a substâncias inofensivas no ambiente, desencadeando uma resposta alérgica nos olhos. As causas comuns incluem exposição a pólen, pelos de animais, ácaros, mofo, produtos químicos irritantes e poluentes do ar.
Ela é mais comum nas crianças e seus sintomas tendem a ir diminuindo à medida que vamos envelhecendo, mas tem pessoas que continuam alérgicas por toda a vida.
Tratamento
O tratamento da conjuntivite alérgica geralmente envolve:
- Medidas para aliviar os sintomas:
- Compressas frias e colírios lubrificantes: aplicar compressas frias sobre os olhos e colírios lubrificantes pode proporcionar alívio temporário da coceira e do inchaço. Eles ainda ajudam a lavar os olhos e diminuir a quantidade de alérgeno presente na região dos olhos, diminuindo a alergia. Como essa parte do tratamento não envolve medicamentos, utilizamos eles como primeira escolha no tratamento das crises de alergia.
Uso de colírios antialérgicos: colírios prescritos pelo médico podem ajudar a aliviar a coceira, a vermelhidão e a irritação nos olhos. Os colírios mais modernos atuam tanto para eliminar os sintomas como também ajudam a prevenir o aparecimento de novos sintomas (por isso, às vezes utilizamos inclusive fora das crises).
Medicamentos anti-histamínicos orais: em alguns casos, podemos prescrever medicamentos anti-histamínicos por via oral para ajudar a controlar os sintomas.
Colírios à base de corticoide: em alguns casos lançamos mão de colírios à base de corticoide para alívio dos sintomas. Importante ressaltar nessa parte que esses colírios geralmente devem ser usados por poucos dias, pois o uso indiscriminado pode gerar catarata e glaucoma (especialmente nas crianças, esse tipo de colírio pode gerar aumentos muito importantes da pressão intra ocular). Portanto: siga a receita conforme indicado e jamais se auto medique!
Colírios à base de imunomoduladores: em alguns pacientes mais resistentes aos tratamentos convencionais ou naqueles cujas crises são muito frequentes, podemos utilizar esse tipo de colírio para ajudar no controle dos sintomas.
- Redução da exposição aos alérgenos
Nesse ponto gosto de chamar bastante atenção dos pacientes e dos pais. É muito comum recebermos pacientes que estão buscando uma segunda, uma terceira ou até uma quinta opinião sobre o tratamento e reclamando que os tratamentos anteriores não funcionaram. Na maioria das vezes identificamos que eles fizeram a primeira parte do tratamento com medicamentos anti alérgicos, mas não fizeram a segunda parte, que é reduzir a exposição àquilo que esta desencadeando a alergia. A alergia é uma doença crônica e não tem cura! É isso mesmo, os anti alérgicos vão melhorar os seus sintomas, mas não vão curar sua alergia. É preciso descobrir quais são e evitar a exposição aos alérgenos! Essa é a parte mais difícil do tratamento, mas a que vai dar maior resultado.
Descobrindo os alérgenos: Tente identificar quais são os desencadeantes. Os principais alérgenos presentes no ambiente são: pólen, pelos de animais, ácaros, mofo e produtos químicos. Portanto, tente identificar onde você estava quando começou a crise de alergia. Foi no banho ou após ele ? Será que foi algum shampoo ou produto que usou no rosto? Foi após a alimentação? Será que foi alergia a algum alimento? Foi quando visitou um sítio que estava muito tempo fechado e tinha muita poeira? Foi quando visitou a vovó que tem aquele cão ou gato? Esse é o jeito prático de descobrir os alérgenos no dia a dia.
Teste alérgico com alergista: quando não foi possível identificar o alérgeno, pedimos ajuda de um alergista que, geralmente, aplica os testes alérgicos para tentar identificar o que está causando a alergia.
Uma vez identificado o que está causando a alergia, você deverá tentar manter-se afastado desse ou desses alérgenos para evitar novas crises. Sabemos que isso não é fácil, pois é difícil controlar os ácaros e poeira, é difícil ficar longe dos animais que tanto amamos, às vezes alguns alérgenos estão presentes no nosso trabalho, como produtos químicos e sabemos que não é fácil trocar de função ou de emprego. Entretanto, precisamos saber que nos afastar dos alérgenos é o principal tratamento.
Quando não obtivemos sucesso total com todas as medidas acima, pedimos novamente ajuda do alergista (é muito importante o tratamento em conjunto) e ele utiliza as vacinas ou imunomoduladores orais para tentar ajudar a manter os pacientes livres dos sintomas.
Cuidados gerais para alérgicos
- Cuidados com a higiene: lave as mãos com frequência, evite coçar os olhos e troque as fronhas dos travesseiros regularmente para reduzir a exposição a alérgenos.
- manter as janelas fechadas durante os picos de polinização, usar capas de proteção de colchão para controlar os ácaros ou limitar a exposição a animais de estimação.
- realize semanalmente a limpeza do filtro externo do ar condicionado ou dos ventiladores e faça a limpeza mais profunda conforme indicação do fabricante.
- Use óculos de sol ao ar livre para proteger os olhos do pólen e da luz solar.
- Use óculos EPI no trabalho para proteger os olhos dos produtos químicos voláteis (também ajuda a prevenir os acidentes de trabalho)
- Mantenha as áreas internas bem ventiladas e livre de mofo.
- Use um umidificador para manter a umidade do ar dentro de casa em níveis confortáveis.
- Prefira passar pano úmido ao varrer a casa para diminuir a poeira em suspensão.
- Prefira produtos de higiene sem cheiro e produzido com substâncias hipoalergênicas.
- Troque regularmente os travesseiros e colchões (conforme a recomendação do fabricante), pois eles vão acumulando ácaros com o tempo.
- Lave as roupas que ficaram muito tempo guardadas antes de usar.
- evite animais domésticos que soltem pelos, especialmente no interior da casa.
- evite ao máximo tocar e coçar os olhos (tente usar os colírios e compressas prescritos). O ato de coçar vai ajudar o seu organismo a liberar mediadores inflamatórios nos olhos e piorar muito os sintomas.
- Faça visitas regulares ao seu oftalmologista (evite ir somente nas crises) levando sua receita e os colírios em uso (apesar de nós termos isso anotado no prontuário, precisamos nos certificar que vocês compraram os colírios corretos e que estão usando corretamente).
- é muito comum que o paciente com conjuntivite alérgica tenha outros tipos de alergia tais como asma e rinite alérgica. Para um melhor controle da conjuntivite alérgica, é muioto importante que o tratamento dessas outras alergias esteja sendo realizado corretamente (seja com alergista, pediatra ou otorrinolaringologista).
Por fim, gostaria de deixar o recado de que entendemos o quanto é desgastante e frustrante conviver com doenças crônicas que não tem uma cura (especialmente para os pacientes com sintomas mais graves e frequentes). No entanto, não perca as esperanças e tente seguir corretamente as orientações do oftalmologista e do alergista, use corretamente as medicações e vacinas porque, em quase todos os casos, é possível obter um bom controle e manter uma ótima qualidade de vida.
Córnea
O ceratocone é uma doença progressiva que causa afinamento e deformação da córnea, formando uma protuberância em forma de cone. A córnea é a camada transparente mais externa do nosso olho e, no ceratocone, ela é mais frágil e tende a ir se deformando.
Isso afeta a capacidade da córnea de focar a luz adequadamente na retina, levando a visão borrada e distorcida. Geralmente, essa condição começa na adolescência e pode progredir com o tempo.
Sintomas
Visão embaçada ou distorcida: As imagens podem parecer distorcidas, desfocadas ou com halos ao redor das luzes.
Sensibilidade à luz (fotofobia): Pode ser difícil tolerar luz forte.
Visão dupla: Você pode ver uma imagem duplicada de um objeto.
Aumento na necessidade de trocar óculos: À medida que a condição progride, os óculos podem deixar de ser eficazes para correção visual.
Diagnóstico
O ceratocone é diagnosticado por um oftalmologista através de um exame oftalmológico abrangente, associado a exames específicos da sua córnea: topografia corneana (exame que consegue ver a forma da sua córnea), paquimetria corneana (exame que mede a espessura da córnea) e a tomografia corneana (Pentacam – exame mais acurado para acompanhamento do ceratocone e que pode nos dar medidas mais precisas para avaliar a progressão da doença).
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Objetivos do tratamento do ceratocone
Fornecer uma visão de qualidade para o paciente.
Detectar precocemente a evolução da doença e tomar medidas para reduzir ou impedi-la.
Tratar deformidades já estabelecidas para reabilitar nossos pacientes
1. Melhorando a qualidade de visão
É muito comum o paciente procurar ao especialista em córnea para que nós possamos prescrever lentes de contato rígidas para o tratamento do ceratocone. É importante ressaltar neste tópico que existem ceratocones mais leves e ceratocones mais graves, por isso nem todo paciente precisará de usar lentes de contato rígidas.
- Óculos
Os óculos foram feitos para corrigir graus em pessoas com córneas normais e, por isso, eles são menos eficientes em pacientes com ceratocone. No entanto, eu sempre tento que os pacientes tenham um óculos. Esse óculos pode dar 100% de visão para os pacientes com ceratocones leves (que são a maioria dos casos no consultório) ou permitir uma melhora parcial da visão (para os pacientes que usam lentes de contato rígida, mas precisam descansar os olhos das lentes de vez em quando).
Lentes de contato gelatinosas
Esse tipo de lente é o mais utilizado na prática clínica, mas para pacientes com ceratocone nós utilizamos apenas naqueles que tem uma boa qualidade de visão com os óculos. Como as lentes são gelatinosas, elas tendem a se adaptar à forma da córnea e dar uma visão parecida com a visão fornecida pelos óculos.Lentes de contato rígida gás permeáveis
Essas lentes, cujo nome já diz, são de um material mais rígido, por isso elas tendem a modificar a forma da córnea quando elas são adaptadas, tornando a superfície corneana mais regular e melhorando a qualidade de visão dos pacientes. Embora muitos pacientes tenham medo de usar essas lentes, quando bem adaptadas, os pacientes conseguem usa-las com muito conforto e excelente qualidade de visão. Elas existem em plataformas monocurvas, bicurvas e multicurvas.Lentes de contato esclerais
As lentes esclerais são um tipo especial de lentes rígidas que se diferenciam por ter um tamanho maior e se apoiar na esclera (parte branca dos olhos). Elas tem a grande vantagem de serem muito mais confortáveis do que as lentes rígidas padrão, porém são mais difíceis de manusear (depois de algumas semanas de treinamento, essa dificuldade tende a desaparecer) e tem um custo maior de aquisição.
2. Monitoramento da evolução do ceratocone
Quanto mais jovem é o paciente com ceratocone, maior o risco da doença evoluir e mais importante são as visitas periódicas ao oftalmologista. O tempo entre as visitas deve ser individualizado para cada paciente, mas geralmente iniciamos com visitas mais frequentes (a cada 3 ou 4 meses – 3 a 4 vezes ao ano) e vamos espaçando até consultas a cada 6 a 12 meses – 1 ou 2 vezes ao ano), quando temos certeza de que não está mais evoluindo.
Muito importante o paciente não coçar os olhos, pois sabemos que é um dos maiores fatores de risco para o ceratocone. Para isso, as alergias tanto oculares quanto sistêmicas do paciente devem estar bem tratadas. Possivelmente você vai ter uma receita de colírios para usar nos dias de coceira, alguns pacientes vão precisar usar colírios continuamente e alguns vão precisar ser encaminhados para tratamento em conjunto com o alergista.
Exames da córnea: os exames da córnea (topografias, paquimetrias e especialmente as tomografias) devem ser feitas nos períodos indicados pelo seu oftalmologista, pois elas são o principal parâmetro utilizado para avaliar a evolução da patologia. Além disso, vamos verificar regularmente as mudanças de grau e piora da qualidade de visão, também fatores importantes de serem avaliados na evolução da doença.
3. Tratamento cirúrgico do ceratocone
Nem todos os pacientes precisam de tratamento cirúrgico para o ceratocone, mas as cirurgias são grande aliados na melhora da qualidade de visão ou para impedir a progressão da doença.
- Crosslinking corneano
O crosslinking consiste em uma técnica cirúrgica onde a córnea doente e que está em evolução é submetida a uma carga de riboflavina (vitamina B) e posteriormente irradiada com uma dose controlada de radiação UV para tentar fortalecer a estrutura da córnea. Sabemos que no ceratocone, a córnea é mais frágil, por isso é importante tentar fortalecer a mesma e impedir a deformação progressiva. Utilizamos essa técnica cirúrgica geralmente para pacientes com boa qualidade de visão em que verificamos uma progressão durante o acompanhamento.
- Anel intra estromal ou Anel de Ferrara
O anel intra estromal é uma prótese que é inserida no interior da córnea com objetivo de melhorar sua forma. Existem vários tipos diferentes de anéis e seu médico vai escolher de acordo com as características da sua córnea. Importante salientar que existem duas técnicas cirúrgicas para implante do anel: a técnica manual, em que o oftalmologista constrói manualmente o túnel onde o anel vai ser inserido e o técnica com laser de femtosegundo, onde esse túnel será confeccionado pelo laser. A técnica com laser é mais rápida, mais precisa e com menos complicações. Sua única desvantagem é o aumento do custo do procedimento.
O anel é selecionado para pacientes que já não tem uma boa visão mesmo com uso dos óculos. Ele funciona melhorando a forma da córnea e os estudos mostram bons efeitos em cerca de 90% dos pacientes. Com a cirurgia, esperamos: melhora da visão com óculos, melhora da visão sem óculos e diminuição do grau dos óculos. Além disso, sabemos hoje que o anel contribui para a estabilização do ceratocone.
- Transplante de córnea
O transplante de córnea era o principal tratamento cirúrgico do ceratocone há poucas décadas atrás e devido a sua maior taxa de complicações vem perdendo espaço para as demais técnicas. Hoje reservamos os transplante para pacientes com ceratocones muito avançados ou que já tem cicatrizes corneanas, cujos tratamentos clínicos e cirúrgicos anteriores não obtiveram sucesso ou não podem ser realizados.
Os transplantes são divididos em transplantes lamelares (aqueles em que transplantamos apenas algumas camadas da córnea e as camadas mais profundas e não doentes são preservadas) e os transplantes totais da córnea.
Refração e Óculos
A principal dica para escolher uma armação é escolher a que melhor combine com você. Não é incomum um paciente não se adaptar aos óculos por não ter gostado da estética da armação escolhida. Por isso, escolha sua armação com calma e procure levar alguém de confiança junto com você, que conheça seu gosto e estilo para te ajudar a fazer a melhor escolha.
Obs: nem todas as armações combinam com todas as lentes. Por isso, peça o auxílio do óptico para te orientar nessa tarefa.
Materiais de Armações
•Acetato: são as mais utilizadas por possuírem material leve e resistente.
•Metálicas: geralmente mais estreitas e precisam de lentes mais finas. Para alérgicos a níquel, perguntar se não há presença desse material na liga metálica.
• Emborrachadas: mais maleáveis, sendo ideais para crianças.
Obs: algumas armações possuem plaquetas de apoio para o nariz. Observe se vai ficar confortável para o seu formato de nariz. Em geral, asiáticos e negros têm a base do nariz menos proeminente, desta forma as armações com plaquetas podem ajudar no posicionamento dos óculos no rosto.
Design das Armações
Escolha de Lentes
Material das lentes
Vidro: em desuso pelo seu maior peso e espessura, além de quebrar com facilidade. Sua vantagem é ter maior resistência aos riscos.
Resina: é o material mais utilizado pela sua leveza e versatilidade. Existem as resinas mais simples que são mais baratas e mais espessas e as resinas de alto índice de refração que são mais finas.
Policarbonato: é um material de alta resistência, muito indicado para profissões de risco e armações em que a lente precisa ser perfurada (armações em 3 peças presas com parafusos).
Trivex: é um material também de grande resistência, porém com qualidade óptica melhor que o policarbonato. Por isso, é indicado para crianças que precisam da associação de resistência com uma boa qualidade de visão, já que estão em fase de desenvolvimento visual.
Tratamento das lentes:
Antirreflexo: é um tratamento que visa minimizar os reflexos indesejáveis nas lentes, causando uma melhora estética e também da visão.
Existem diversos tipos de antirreflexo. Quanto maior número de camadas oferecidas, mais funções possuem o tratamento escolhido, geralmente aumentando sua durabilidade, garantia e também o preço. Entre as funções das camadas do antirreflexo, existem:
– o antirreflexo propriamente dito: melhora a sensibilidade ao contraste.
– camada antirrisco: diminui a incidência de riscos na lente, mas não os impede. Por isso, é importante sempre guardar os óculos no estojo quando não estiverem sendo utilizados.
– camada hidrorrepelente: evita o acúmulo de líquidos e facilita a limpeza da lente.
– camada antiestática: diminui o acúmulo de poeira nas lentes, mantendo as mesmas limpas por mais tempo.
– camada liporrepelente: diminui o acúmulo de gordura nas lentes, mantendo as mesmas limpas por mais tempo.
Tratamentos Fotossensíveis: é o tipo de tratamento que torna as lentes adaptáveis, ou seja, aquelas que se tornam mais escuras em ambientes muito iluminados e mais claras em ambientes menos iluminados.
Obs: muito importante salientar para quem pretende usar esse tratamento pela primeira vez que a ativação do tratamento é feita por raios UV, porém essa lente não escurece tanto quanto os óculos escuros. Outra observação é que, dentro dos carros, como existe proteção UV obrigatória nos vidros dos mesmos, a lente com esse tipo de tratamento tende a escurecer menos do que quando exposta diretamente ao sol. Importante também informar que, em alguns ambientes internos muito iluminados, as lentes podem ser ativadas por esse excesso de luminosidade, causando uma discreta coloração das mesmas. Portanto, esse tratamento torna a lente bem prática para uso no dia a dia, mas alguns pacientes preferem ter 2 óculos: 1 par de lentes claras e 1 par de lentes escuras.
Armações clip-on: Uma outra alternativa que tem caído no gosto dos pacientes são as armações do tipo clip-on, ou seja, aquelas que permitem adicionar lentes com filtros escuros, marrons ou amarelos à armação. Com isso transformam os óculos tradicionais em óculos escuros ou filtrantes, conforme filtro adicionado.
Polarização: as lentes polarizadas são aquelas que possuem um filtro que minimiza os efeitos de reflexos do sol sob superfícies como estradas de asfalto, água, areia e neve. Com isso, aumenta a sensibilidade ao contraste, resultando em melhora tanto do conforto quanto da qualidade visual.
Modelo/Desenho das lentes
Óculos de visão Simples para longe Para pacientes até por volta de 40 anos e saudáveis que possuem hipermetropia ou miopia, associado ou não a astigmatismo, uma lente de visão simples para longe geralmente é suficiente. Isto quer dizer que os óculos darão a melhor correção para visão de longe e a própria força do olho (mecanismo de acomodação) fará o paciente ler de perto, sem necessidade de lentes adicionais para perto.
Óculos de visão simples para perto
Para pacientes que têm boa visão para longe e dificuldade para visão de perto (geralmente após os 40 anos), essa é uma das alternativas. Tem como vantagens seu preço mais acessível e um bom campo de visão, já que a lente é exclusiva para perto. Como desvantagem, apresenta piora da visão intermediária e para longe, sendo necessário tirar e colocar os óculos constantemente (ou mesmo olhar por cima dos óculos).
Óculos de visão simples especiais para miopia
Recentemente foram lançadas no mercado óptico lentes especiais para pacientes míopes cujo o grau estão aumentando, especialmente crianças e adolescentes. Essas lentes possuem tecnologias variadas (variam conforme o fabricante) que tem por objetivo tentar desacelerar a progressão da miopia. Ainda é uma tecnologia cara e que não está indicada para todos pacientes. Converse com seu oftalmologista durante a consulta para maiores detalhes.
Óculos multifocais
Para os pacientes que apresentam dificuldade tanto para perto quanto para longe, ou mesmo para os pacientes que apresentam dificuldade apenas para perto e não desejam ficar tirando e colocando os óculos o tempo todo, esta é a principal alternativa. Sua lente apresenta uma progressão que permite uma boa visão longe, de perto e intermediária, sendo sua principal vantagem.
Como desvantagem, apresentam preços mais elevados que as lentes de visão simples e uma maior dificuldade inicial de adaptação nos primeiros dias de utilização, mas que tendem a ser superados com o uso.
Para uma boa adaptação com lentes multifocais, algumas dicas são importantes: evite armações grandes demais ou pequenas demais (peça dicas ao seu óptico de confiança) prefira as lentes com tecnologia free formque tendem a diminuir as aberrações inerentes às lentes multifocais e a aumentar o campo visual. -escolha uma óptica reconhecida por sua boa qualidade, pois ela será responsável por tirar suas medidas, montar sua lente e dar garantia adequada. -uma vez escolhida uma boa óptica e boa marca de lente, discuta com seu óptico de confiança o custo x benefício entre as lentes disponíveis. Existem diversos tipos de lentes com diferentes qualidade, campo visual, preços e qualidade de adaptação (definitivamente as lentes multifocais não são todas iguais!).
Óculos ocupacionais
Para os pacientes que trabalham em ambientes de escritório e que precisam de boa visão para perto e intermediária, essa é uma boa alternativa. Por não possuirem campo de visão de longe, têm um maior campo de visão intermediário, facilitando principalmente o uso no computador. Como desvantagem, não tem visão para longa distância.
Lentes Anti fatigue ou Lentes para Vida Digital
Essa classe especial de lentes possui o grau de longe do paciente na parte superior das lentes proporcionando uma visão de longe adequada associada a uma adição variável de grau para perto na parte inferior das lentes com intuito de ajudar os músculos oculares a manter o foco para a visão de perto. É uma lente muito interessante para quem fica muitas horas utilizando a visão de perto em celulares e outros dispositivos. Essa tecnologia também é utilizada para os pacientes que estão no início da presbiopia (“vista cansada”), quando ainda é possível utilizar o mesmo grau para intermediário e perto (nessas lentes, conforme ilustrado abaixo, não há distinção entre grau para perto e grau intermediário).
Algumas informações importantes
-Sempre que for possível, traga seus óculos para conferência munido da sua receita e da garantia de sua lentes que foi fornecido pela óptica. Embora não seja obrigatório, sugerimos que você traga seus óculos assim que pegá-los na óptica.
-È bastante comum ter algum desconforto nos primeiros dias após a troca dos seus óculos, especialmente se houve mudança de grau ou do modelo das lentes e armações. Após conferidos, tente utilizar nos próximos dias para que você possa se adaptar.
-O que fazer se não estiver se adaptando mesmo com passar dos dias?
O primeiro passo é ir até a óptica para reconferir o posicionamento dos óculos em seu rosto para que o óptico possa realizar ajustes. Normalmente isso resolve a grande maioria dos problemas de adaptação.
No entanto, se isso não der certo, está na hora de voltar ao consultório para que possamos fazer uma revisão de todo o processo e tentar descobrir o motivo pelo qual você não está se adaptando. Nesse caso, é importante entrar em contato com nossa equipe e explicar o motivo, pois daremos total prioridade ao seu agendamento (essa revisão geralmente não é rápida e, por isso precisa ser agendada para que tenhamos tempo de conversar e descobrir o motivo da insatisfação).
E não deixe passar muito tempo, pois a maioria das lentes de boa qualidade têm de 30 a 90 dias de garantia de adaptação, ou seja, poderemos pedir alguma adequação de sua lente, sem custo para você (procure se informar sobre essa importante informação na hora da compra de seus óculos).
Uma dúvida muito comum nos pacientes que utilizam óculos de grau é sobre a possibilidade de ser submetido a alguma cirurgia para deixar de usar os óculos. Os procedimentos com essa finalidade recebem o nome de cirurgia refrativa e vamos tentar te explicar um pouco sobre esse assunto nesse artigo.
É importante saber que existem cirurgias refrativas para todas as idades, mas é preciso estar na idade adulta. Somente podemos realizar cirurgias refrativas a partir de 18 anos, preferencialmente após 21 anos, em olhos com grau estável.
Cirurgia Refrativa à Laser
A cirurgia refrativa mais comum e a primeira que vem à cabeça tanto dos oftalmologistas quanto dos pacientes é a cirurgia refrativa à laser. Essa é a modalidade de cirurgia mais difundida para deixar os pacientes mais independentes dos seus óculos e lentes de contato.
Nessa modalidade de tratamento, utilizamos mais comumente um tipo de laser, o eximer laser, para realizar uma mudança da forma da córnea do paciente com objetivo de que a nova forma da córnea consiga corrigir o grau do paciente. Quando utilizamos esse laser isoladamente, iremos realizar a cirurgia conhecida como PRK.
Atualmente, existe um segundo tipo de laser, chamado Femtosegundo laser que pode ser utlizado isoladamente para corrigir o grau do paciente (técnica conhecida como SMILE) ou em conjunto com o eximer laser (técnica conhecida como LASIK)
Imagem ilustrativa da aplicação de um laser na córnea do paciente, que é a camada mais superficial do olho e também a primeira lente do nosso olho.
Antes de começar a te explicar um pouco mais sobre cada técnica, costumo dizer para o paciente que não existe uma técnica que seja 100% melhor que as outras (se existisse, as outras técnicas cairiam em desuso). Apesar de cada cirurgião ter a sua técnica de preferência, sabemos que cada uma das técnicas tem vantagens e desvantagens em relação às outras. Assim, baseado no perfil do paciente, na discussão dos prós e contras de cada técnica e nos dados da sua córnea, decidiremos sobre qual a melhor técnica para cada paciente.
Para aplicar qualquer uma das técnicas cirúrgicas à laser, o grau do paciente deve estar estável há, no mínimo, um ano. Além disso, é necessário um estudo minucioso do seu olho (especialmente da cornea), além de pesquisar doenças sistêmicas através de questionários. Algumas doenças (tanto oculares como sistêmicas) podem ser contra indicações para a cirurgia e outras devem estar muito bem controladas para que possamos realizar a cirurgia com segurança.
Uma dúvida comum dos pacientes é se a cirurgia precisa de internação. Esse tipo de cirurgia é ambulatorial, ou seja, você recebe apenas anestesia local (com colírios), a cirurgia dura apenas cerca de 10-20 minutos nos dois olhos (na maioria das vezes operamos os dois olhos juntos) e logo após a cirurgia e um período mínimo de recuperação pós cirúrgica você já recebe alta para ir pra casa.
Vamos agora te explicar as principais diferenças entre os tipos de cirurgias refrativas corneanas a laser:
1. PRK:
Nessa modalidade de tratamento, fazemos a retirada da camada mais superficial da córnea, denominada epitélio corneano, e posteriormente aplicamos o eximer laser para correção do grau do paciente em camadas mais superficiais da córna. Como foi retirado o epitélio da córnea, logo após a aplicação do laser, vamos inserir uma lente de contato sem grau, que funciona como um curativo para o crescimento de um novo epitélio. Esse é a primeira fase do processo de recuperação e demora de 5-7 dias.
Etapas da cirurgia: 1. aplicação de medicamento para dissolver o epitélio 2. removendo o epitélio 3. remodelamento da córnea com o laser 4. colocação da lente de contato como curativo.
Vídeo mostrando um prk tradicional
Video demonstrando a técnica mais moderna denominada transprk, onde o cirurgião não toca o olho do paciente e o laser também faz a retirada do epitélio. Essa é a nossa atual técnica de escolha para o PRK.
- Vantagem:
A grande vantagem dessa técnica é que não ha nenhum tipo de corte na córnea, o que mantém uma maior integridade da estrutura corneana, reduzindo a chance de ectasia corneana (uma das complicações mais temidas na cirurgia refrativa em que a córnea perde sua forma habitual decaindo progressivamente a qualidade visual do paciente).
- Desvantagens:
Devido a retirada do epitélio, as terminações nervosas da córnea ficam mais expostas e é muito comum os sintomas de sensação de areia e desconforto nos primeiros dias de pós operatório.
Outra desvantagem importante diz respeito acerca do tempo necessário para a recuperação visual total do paciente. Essa recuperação é mais lenta, sendo que os pacientes referem recuperação de 60-70% da qualidade de visão na primeira semana, 80-90% no final do primeiro mês e até 3-6 meses para recuperação visual completa (esse tempo de recuperação depende também da quantidade grau corrigido).
Uma terceira desvantagem é a possibilidade de ocorrer Haze corneano, que é uma inflamação exagerada da córnea, que pode diminuir sua transparência por um período de tempo, prejudicando a qualidade de visão. Essa foi uma limitação dessa técnica por um grande período de tempo, mas com o atual uso de um medicamento chamado mitomicina ao final da cirurgia associado ao conhecimento que a radiação UV do sol aumenta o risco e a orientação para usar óculos solar, esse risco caiu bastante. Com a técnica atual esse risco é, em média, de 1%.
2. LASIK:
Nessa modalidade de tratamento, inicialmente se confecciona um flap corneano, que é um corte onde uma parte mais superficial da córnea é levantada (veja as figuras abaixo para entender, mas costumo falar com o paciente que se assemelha quando cortamos uma “tampinha de uma laranja”.) Depois disso, o laser é aplicado em uma região mais profunda da córnea gerando seu remodelamento. Por último, o flap é recolocado de volta em seu lugar, funcionando como um curativo perfeito para a córnea. Geralmente deixamos uma lente de contato por 1 dia para proteção. Esse corte na córnea pode ser realizado com uma lâmina (técnica tradicional) ou um segundo tipo de laser denominado Femtossegundo laser (técnica mais moderna e segura, única que atualmente realizamos).
Imagem mostrando a confecção do flap corneano e aplicação mais profunda do laser no Lasik
Vídeo mostrando a técnica do Lasik e comparando a técnica tradicional com lâmina e a técnica atual com corte a laser.
Vantagens: a grande vantagem do Lasik é o seu tempo de recuperação que é muito mais rápido em comparação ao PRK. Outra vantagem é que essa cirurgia é praticamente isenta de desconforto ocular que vemos nos primeiros dias do PRK.
Desvantagens: a confecção do flap tem alguns riscos. O primeiro e mais importante é que o corte da córnea tende a enfraquecer um pouco a estrutura da córnea. Portanto, existe um risco potencial maior de perda da estrutura natural da córnea denominada ectasia corneana. Por isso a córnea deve ter uma estrutura boa para ser submetida a essa técnica.
A confecção do flap ainda induz alguns riscos de surgimento de estrias ou dobras no flap, presença de debris (“sujeira”) na interface do flap, inflamação do flap, crescimento epitelial na interface do flap.
Outra desvantagem dessa técnica é que a confecção do flap pode ter alguma falha e a cirurgia principal de remodelamento da córnea precisar ser cancelada e reagendada após a cicatrização da córnea.
Esses riscos, embora baixos atualmente utilizando o laser de femtosegundo, podem levar a reintervenções não desejáveis.
3. SMILE:
Nessa modalidade de tratamento, cuja sigla significa extração de lentícula corneana por pequena incisão, um único laser denominado Femtossegundo é aplicado fazendo um corte interno na córnea (lentícula) e uma pequena abertura de onde o cirurgião retira o tecido a ser subtraído do olho e que causa o remodelamento desejado na córnea.
Imagem mostrando a confecção da lentícula pelo laser 2. extração da lentícula pelo cirurgião 3. cornea já remodelada após a extração da lentícula.
Vídeo mostrando a técnica Smile com extração da lentícula corneana.
Vantagens: essa técnica é a mais recente entre as três e busca unir as melhores características das duas técnicas: uma retirada de córnea mais profunda garantindo uma recuperação com rapidez equiparada ao Lasik com um corte na córnea pequeno, com objetivo de manter maior estabilidade da córnea assim como o PRK.
Desvantagens: a grande desvantagem dessa técnica ainda é o custo mais elevado em relação às demais modalidades cirúrgicas. Além disso, os estudos mais recentes mostraram que ela se comporta parecido com o lasik em relação à manutenção da estrutura da córnea.
Resultados
Com os lasers atuais, temos ótimos resultados cirúrgicos. O paciente deve ter em mente que , exceto em casos previamente combinados onde programamos deixar um grau residual, miramos na perfeição, ou seja, zerar o grau o paciente. No entanto, nem sempre isso é possível e consideramos sucesso quando o paciente consegue independência dos óculos, o que geralmente ocorre com grau residual de 0,50 ou menos dioptrias. Essa taxa de sucesso, pela literatura médica, ocorre em cerca de 95% dos olhos.
Atualmente estima-se uma taxa de satisfação que gira em torno de 95 -98% dos pacientes realizados. É uma das cirurgias com maior taxa de satisfação.
Sempre gosto de lembrar ao paciente que, embora a cirurgia tenha um custo inicial relevante para atingir a independência dos óculos, na maioria dos casos, esse custo é pago com a própria economia que ocorre após a cirurgia já que o paciente deixa de gastar com óculos e lentes de contato.
Riscos
Alguns riscos que são inerentes à cada técnica cirúrgica foram descritos acima, mas alguns riscos são comuns a todas as técnicas. Sempre comento com os pacientes que, infelizmente, não existe procedimento cirúrgico sem riscos:
- Infecção: ocorre em menos de 1% dos olhos, mas tem um potencial gravidade importante.
- Ectasia corneana: perda da estrutura natural da córnea levando a distorção e perda de qualidade de visão.
- Olho seco: o olho pós cirurgia refrativa tende a ter diminuição de sua lubrificação natural, que pode ser temporária ou permanente.
- Hipo ou hipercorreções: quando o laser não consegue atingir o objetivo programado. Nesses casos, em caso de insatisfação do paciente, entre 6 e 12 meses pode ser avaliado um retoque com reaplicação do laser, mas isso depende de uma nova avaliação da córnea. Essas dificuldades de correção são mais comuns nos graus mais altos, nos astigmatismos e especialmente nas hipermetropias.
- Novos aumentos de grau: embora seja pouco provável que o paciente apresente mudança de grau importante após os 21 anos, o olho é um tecido vivo e caso isso aconteça pode voltar os sintomas (geralmente o grau é menor que no pré operatório).
- Regressão do efeito da cirurgia: como todo tecido vio que sofre uma modificação, sua córnea vai tentar se regenerar e voltar à sua forma anterior. Isso é denominado regressão do efeito e já foi uma grande preocupação no passado, mas tem se tornado menor com a qualidade dos lasers atualmente utilizados.
- Presbiopia ou vista cansada: sempre que operamos um paciente jovem abaixo dos 40 anos, explicamos que o objetivo é zerar o grau dos dois olhos para longe e o próprio olho do paciente vai ficar responsável pela correção da visão para perto. Como naturalmente após os 40 anos perdemos gradualmente a capacidade de focalizar para perto, o paciente operado vai começar a apresentar dificuldade na focalização de objetos para perto e geralmente é necessário voltar a usar óculos para perto (lembrando que se não tivesse corrigido a visão de longe com laser, estaria usando óculos para longe e para perto). Por isso sugerimos aos pacientes que operem tão logo seu grau estabilize para que possa usufruir pelo maior tempo possível de sua independência total dos óculos.
Para o paciente que já tem vista cansada ou está próximo dos 40 anos, sempre avaliamos a possibilidade de cirurgia em “báscula”, ou seja, a cirurgia em que privilegiamos um dos olhos para melhor visão de longe e um dos olhos com melhor visão para perto. Embora pareça estranho em um primeiro momento, estudos atuais apontam que a grande maioria das pessoas tem capacidade de se adaptar a esse tipo de visão.
Cirurgia Faco Refrativa
A cirurgia facorefrativa diz respeito a cirurgia realizada para troca da lente natural interna do olho (cristalino) do paciente por uma lente artificial que corrija o grau do mesmo.
Essa cirurgia é mais comumente realizada em pacientes que tem catarata e que já precisam realizar a substituição de sua lente natural que está doente. No entanto, a mesma cirurgia pode ser feita em pacientes que não tem catarata, desde que eles possuam alguns pré requisitos determinados pelo Conselho Federal de Medicina. O principal pré requisito é ter idade mínima de 55 anos e um grau que atrapalhe as atividades cotidianas (especialmente hipermetropias acima de +1,5 dioptrias).
Reservamos essa técnica para pacientes com essa faixa etária já que nessa idade a lente natural perde sua capacidade de modificar seu foco (processo de acomodação). Além disso, a maioria dos pacientes vão ter algum grau de catarata e já irão ser submetidos à cirurgia entre 60 e 70 anos, mesmo que a cirurgia tenha apenas a finalidade de corrigir a catarata, sem finalidade refrativa.
Imagem mostrando a substituição da lente natural do olho por uma lente artificial.
Temos 2 outros artigos em que discutimos de forma mais detalhada essa cirurgia e todos os tipos de lentes possíveis de serem implantados.
Implante de Lente Fácica
O implante de lente fácica é o procedimento cirúrgico em que uma lente artificial é implantada dentro do olho mantendo também a lente natural.
imagem de uma lente artificial sendo implantada logo acima da lente natural do paciente, atrás da íris (parte colorida do olho)
O implante de lentes tem uma precisão um pouco menor do que o do laser, por isso ele é reservado para pacientes jovens em que a lente natural do olho está em plano funcionamento, mas que o grau é elevado e excede a capacidade de correção do laser.
Essa lente artificial é sempre implantada à frente da lente natural e pode se localizar atrás da íris (parte colorida do olho) como na foto acima ou à frente da íris na foto abaixo.
Imagem de uma lente artificial à frente da íris.
Essa técnica, além de menor precisão em relação ao laser tem a desvantagem de ser mais invasiva, pois ela é uma técnica intra ocular necessitando abertura do globo ocular para seu implante, além de aumentar o risco de uma catarata mais precoce e lesão ao endotélio da córnea.
Implante de Anel Corneano com finalidade refrativa
O anel intra corneano é um dispositivo que foi desenvolvido para ser implantado dentro da córnea a modificar sua forma. Sua criação inicial é anterior ao desenvolvimento dos lasers para cirurgia refrativa. No entanto, como não havia uma precisão adequada, esses dispositivos caíram em desuso por um tempo, especialmente com o desenvolvimento dos lasers precisos para modificar a córnea.
Depois de alguns anos, novos estudos conduzidos pelo Dr Paulo Ferrara, desenvolveram o anel para ajudar no tratamento do ceratocone (córnea com alteração de sua forma natural), melhorando a qualidade de vida desses pacientes, mas ainda sem conseguir uma precisão adequada na correção do grau do paciente (que é o objetivo da cirurgia refrativa).
Imagem mostrando um anel intra corneano implantado modificando a forma da córnea.
Com o avanço dos estudos, um novo modelo de anel intra corneano, denominado anel HM, foi desenvolvido para ajudar na correção de graus cuja capacidade excede o limite do laser (ou também para córneas que apresentam alguma contra indicação para aplicação do laser total). Por não ter a mesma precisão do laser, geralmente eles são utilizados em conjunto: primeiro faz-se o anel e aguarda o seu resultado; posteriormente aplica-se o laser para corrigir o grau que o anel não conseguiu corrigir.
Tem como vantagem em relação à cirurgia de implante de lente fácica descrita acima por ser uma cirurgia menos invasiva (não necessita abertura da córnea) e menos sujeita à complicações. Sua desvantagem é que quase sempre iremos precisar de um segundo procedimento para conseguir o resultado refrativo pretendido.
Oftalmo Pedriatria
A primeira consulta oftalmológica na infância é um marco importante no cuidado com a saúde visual das crianças. É nesse momento que o oftalmologista pode identificar problemas visuais precocemente e tomar medidas para corrigi-los ou tratá-los adequadamente.
A sugestão atual é que a primeira consulta oftalmológica seja feita até os 6 meses de vida nas crianças em que a gestação, parto e período neonatal ocorreram sem problemas, a criança nasceu no tempo correto e o teste do olhinho realizado pelo seu pediatra estava normal. Se houver alguma dúvida no teste do olhinho feito pelo pediatra ou alguma alteração nos exames de pré-natal (especialmente as sorologias para doenças transmissíveis, tais como a toxoplasmose) ou prematuridade, o primeiro exame oftalmológico deve ser realizado o quanto antes for possível.
Obs: orientamos que avise nossa secretária caso o exame do seu filho tenha sido solicitado com prioridade e nos envie o relatório do seu pediatra para que possamos dar mais agilidade ao seu agendamento (não esqueça de trazer o cartão de pré-natal e o cartão da criança).
Nesse ponto, é importante diferenciar que o teste do olhinho (ou teste do reflexo vermelho) é um exame de triagem mais básico, que é realizado pelo pediatra ou algum outro profissional de saúde treinado e é diferente do exame com o oftalmologista. No teste do olhinho não há visualização direta do fundo de olho, o examinador consegue ver apenas seu reflexo através da luz do oftalmoscópio. O princípio é o mesmo que observamos nas fotografias com flash em que conseguimos ver o reflexo vermelho da retina (na maioria dos olhos normais) e um reflexo esbranquiçado quando o olho tem algum problema.
Nesta imagem observamos como é visto pelo pediatra o reflexo normal (à esquerda) e anormal (à direita) durante um teste do olhinho.
No exame oftalmológico, diferentemente do teste do olhinho, faremos a visualização direta do fundo de olho (retina) da criança auxiliado por equipamentos oftalmológicos específicos, sempre que isso for possível.
Imagem ilustrativa de equipamentos e lentes especiais utilizadas pelo oftalmologista para visualizar a retina.
Nesta imagem podemos observar como o oftalmologista vê o fundo de olho e todas suas estruturas (nervo óptico, retina, vítreo e vasos retinianos) durante o exame oftalmológico.
A importância das consultas oftalmológicas na infância reside no fato de que muitos problemas visuais em crianças podem passar despercebidos sem uma avaliação do oftalmologista. As crianças, especialmente aquelas muito pequenas, podem não ser capazes de expressar ou comunicar efetivamente problemas visuais que estão enfrentando. Como resultado, distúrbios visuais como erros de refração (miopia, hipermetropia, astigmatismo), estrabismo (olho torto), ambliopia (olho preguiçoso) e outros problemas até mais graves como tumores oculares podem não ser detectados até que se tornem mais avançados e difíceis de tratar. Importante destacar que se o problema for em apenas um dos olhos, a criança pode se desenvolver normalmente vendo bem por apenas um dos olhos, dificultando ainda mais a percepção do problema.
A detecção precoce de problemas visuais é crucial para iniciar o tratamento oportuno, o que pode melhorar significativamente as perspectivas de recuperação da visão e o desenvolvimento visual da criança. Como as crianças são especialmente difíceis de serem avaliadas, as consultas oftalmológicas regulares de acompanhamento são fundamentais para aumentar a chance de detecção precoce de problemas. Isso é especialmente importante se houver histórico familiar de problemas visuais, se a criança apresentar sinais de problemas visuais, como estrabismo, ou se houver preocupações sobre o desenvolvimento visual pelos cuidadores ou professores.
Uma dúvida frequente dos pais é saber como vamos medir a visão da criança que ainda não fala e ainda não conhece as letrinhas (teste mais utilizado na rotina do dia a dia). Os estudos mostram que, para cada idade, existe um comportamento visual esperado e os oftalmologistas vão testar esse comportamento do seu filho para tentar entender se está adequado. A partir dos 3 a 4 anos, a criança geralmente já consegue identificar figuras mostrados no exame (no lugar das letras) e, após a alfabetização, o exame passa a ser muito semelhante ao realizado nos adultos.
Imagem mostrando diferentes tabelas utilizadas na prática clínica, em ordem: tablea de figuras para crianças, tabela de ‘E” para pacientes analfabetos e tabela de letras.
Obs: para aumentar a chance de sucesso na consulta, em nosso consultório (em que atendemos pacientes de todas as idades), agendamos as crianças nos primeiros horários de cada turno, para minimizar a chance de atrasos que podem fazer com a criança se irrite. Sabemos que sair com as crianças de casa é trabalhoso, por isso pedimos que os pais tentem se organizar pra chegar com alguma antecedência para evitar atrasos que inviabilizem o exame do seu filho. Caso você realmente não consiga vir nos primeiros horários, avise nossa secretária que ela providenciará algum outro horário, porém saiba que, em nossa experiência, ocorre um aumento da chance de não conseguirmos realizar todo o exame em apenas uma visita.
Sobre o desenvolvimento da visão, os pais devem saber que as crianças nascem com uma visão muito restrita e vão se desenvolver atingir a maturidade visual ao longo da primeira infância. Portanto, qualquer problema nesse período pode atrasar o desenvolvimento visual e deixar sequelas permanentes.
Assista abaixo o vídeo de como seu bebê aproximadamente enxerga durante o primeiro ano de vida e os marcos do desenvolvimento visual da criança nas lista abaixo:
Marcos do desenvolvimento da visão
Ao nascer
- bebê tem uma visão borrada e imprecisa com alcance aproximado de 30 cm
1 mês
- A criança começa a fixar o olhar e manter contato visual com os pais
- Nesta fase já pode acompanhar objetos na horizontal
2 meses
- Começa a perceber formas e imagens mais complexas
- começa a sorrir ao perceber a presença dos pais
3 meses
- A criança já é capaz de acompanhar um objeto em todas as direções
- Nesta fase a produção de lágrimas começa a aumentar
6 meses
- Os sistema que controla a visão dos dois olhos já está bem desenvolvido e a criança mantem olhos alinhados
- consegue enxergar objetos a aproximadamente 1 metro e meio de distância
- começa a surgir habilidade de enxergar as cores
12 meses
- inicia a visão de profundidade
- consegue enxergar aproximadamente igual ao adulto
A partir de 1 ano de vida a criança ainda vai amadurecer a visão até por volta de 4 anos de idade, podendo ainda haver desenvolvimento até por volta de 7 a 10 anos.
Essa é uma pergunta muito comum no consultório. A cor dos olhos de um bebê é determinada pela quantidade e tipo de pigmento presente na íris, a parte colorida do olho. No momento do nascimento, a maioria dos bebês tem olhos azuis, cinza ou acinzentados, independentemente da cor que seus olhos possam eventualmente se tornar. Isso ocorre porque a produção completa de pigmento na íris pode levar alguns meses ou até mesmo anos para se estabilizar.
Ao nascer, geralmente a criança tem um olho mais claro do que sua cor definitiva
A cor definitiva dos olhos de um bebê é influenciada por fatores genéticos e a herança dos genes dos pais desempenha um papel fundamental na determinação da cor dos olhos da criança. Embora seja comum que a criança tenha os olhos parecidos com um dos pais, são múltiplos os genes responsáveis pela cor dos olhos e hoje estima-se que 16 genes sejam responsáveis. Por isso, não é tão incomum que a criança tenha olhos mais claros ou mais escuros que os dos pais. Os principais tipos de pigmento que afetam a cor dos olhos são a melanina (responsável pelas cores castanha e preta) e a lipocromo (responsável pelo amarelo). A combinação desses pigmentos nas células da íris determina a cor dos olhos.
Geralmente, a melanina começa a ser produzida nas células da íris em um período de meses após o nascimento. Isso pode causar uma mudança gradual na cor dos olhos do bebê. Os olhos podem passar de azul ou cinza para tons de verde, avelã ou castanho à medida que a melanina se acumula.
Diferentes cores de olhos
Os olhos azuis são o resultado de uma menor quantidade de melanina na íris, permitindo que a luz seja dispersa e refletida, criando a aparência azul. Bebês de todas as etnias podem nascer com olhos azuis, mas essa cor geralmente muda à medida que a produção de melanina aumenta.
Exemplo da mudança da cor dos olhos em um bebê
É importante notar que a cor dos olhos de um bebê pode continuar a mudar nos primeiros anos de vida, mas a maior parte dessa mudança ocorre no primeiro ano de vida. Após esse período, a cor dos olhos tende a se estabilizar, e a cor que a criança tem aos 3 ou 4 anos geralmente será bastante semelhante à cor que terá na vida adulta.
Os olhos castanhos são os mais comuns e estão presente em cerca de 50% da população. A cor de olhos considerada mais rara é a verde e estima-se que esteja presente em cerca de 2-8% da população. Embora as cores azul, verde e castanho sejam as mais comuns, uma grande variedade de cores pode se formar a partir da combinação dos genes recebidos dos pais e é sugerido que cada pessoa tem uma cor de olho que é única no mundo, assim como sua impressão digital. Por isso algumas empresas e governos investem no reconhecimento iriano como identificação individual ou mesmo como chave para abertura de portas ou senhas de acesso.
Exemplo de algorítmo de reconhecimento iriano
É interessante ressaltar que a percepção da cor do olho pode variar bastante de acordo com o reflexo da iluminação do ambiente em que a pessoa se encontra e a dilatação da pupila. Por isso, às vezes temos a impressão que a cor dos olhos pode estar diferente do habitual.
É importante ainda destacar que a mudança de cor dos olhos após o primeiro ano de vida pode significar uma doença inflamatória dos olhos, especialmente se associada a sinais irritativos (vermelhidão, dor, etc) e se ocorre em apenas um dos olhos. Assim sendo, se isso acontecer é muito importante que uma avaliação seja agendada.
Heterocromia: diferente cores entre os olhos de uma mesma pessoa
Outro assunto que vez por outra vem à tona e ganha bastante repercussão na mídia são as cirurgias para mudança da cor dos olhos. Diversas técnicas foram tentadas e é muito importante salientar que nenhuma delas foi considerada segura a longo prazo. Pelo contrário, muitas dessas técnicas foram proibidas ao longo do tempo por causarem doenças oculares graves gerando necessidade de procedimentos cirúrgicos para correção como cirurgias de catarata ou mesmo transplante de córnea até mesmo cegueira causada por glaucoma como complicação desses procedimentos. Por isso não existe nenhum desses procedimentos aprovados no Brasil, exceto raros casos de olhos cegos que tiveram sua cor modificada por alguma doença grave em que é aplicado um pigmento para deixar o olho mais parecido com o olho saudável.
Finalmente, a pergunta que os pais nos fazem no consultório ainda não existe uma resposta. Somente o tempo vai nos dizer qual será a cor final dos olhos dos nossos filhos. Claro que os pais tem sempre uma preferência e podem torcer para que ela se concretize, mas sempre friso que o mais importante na beleza dos olhos está na sua função que é permitir a visão.